sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O Jardim de Hécuba

 Quando foi que te perdi?

numa brecha espaço, tempo ...

hoje te reencontrei 

e veio à tona o sentimento 

de outra existência 

ainda meio escurecida 

imagens desfocadas

como ventos de ciclone

ja não tens o mesmo nome 

mas reconheço tua alma

que por fora parece calma 

mas por dentro é turbulenta 

como chuva de tormenta 

como grande erupção . 

uma vida que tem fome, 

de respostas ,de  caminhos 

de carinho e liberdade 

de juntar realidade 

homogênea com teu sonho 

e no teu olhar distante 

mesmo olhando frente a frente  

vejo um quadro tão tristonho 

uma porta entreaberta 

uma sala deserta 

que eu não consigo entrar 

pra puxar-te para fora 

ou pra te acompanhar 

lado a lado ou feito sombra

no teu mundo escuro e frio 

tão cheio de um vazio

que deve ser falta de mim 

quando foi que te perdi ?

foi naquela tempestade 

no tumulto da cidade 

até me perdi de mim 

já não me conhece mais 

não sou mais tua referência

não sou teu quarto seguro 

sou Hécuba rainha 

sob a roda da fortuna 

agonizando sua ausência    

As Parcas

 As Parcas 

Uma fia, outra tece e outra corta 

A menina, a mulhar e a morta

entrelaços que arrebatam outras tramas 

entre abraços do outro lado da porta 

são as mouras , são as parcas insensíveis 

ao meu lamento de Hécuba, mãe de Heitor 

não conhecem olhos de ressentimento 

não escutam o choro agudo da dor 

não se dobram ao olhar do desespero 

A menina, a moça , a ansiã 

ao fim do sopro da vida indiferentes 

que libertam uma vida de batalhas 

e aprisionam a alma em outras correntes 

É que se amanhã eu não estiver junto contigo  

por um fio de vida ali cortado 

eu fecho os olhos e reúno-me a outros mundos 

pois nem Hades me arranca do seu lado 

abro a fenda dos dois lados do universo 

e resgato do tártaro o filho amado ...

domingo, 30 de setembro de 2018

domingo, 29 de janeiro de 2017

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Ponto Azul

Bem menor que um grão de areia
que existe neste ponto azul,
num bracinho da galáxia
somos nós os "Homo sapiens"
e nem sempre quem semeia 
no planetinha vai colhendo 
somente aquilo que consome,
quem colhe mais do que precisa
sempre deixa alguém com fome!
tudo aqui esta contado, 
o que se transforma é limitado,
mas nem sempre é dividido.
Há quem esteja neste mundo 
plenamente saciado, 
mas há aquele esfomeado 
pelo homem esquecido.
Alimente a Terra e ela
grata, te alimentará!
guarde mais pão do que precisa
e ele mofará ...
a mãe terra , esgotada,
tão generosa  em vão ,
lembra ao "Homo" insaciável
que o que pra Deus é perdoável ,
para a natureza , não!
neste pequeno ponto azul
a agonizante Gaia 
em desespero  dá seu grito , 
transbordando de viventes ,
tão discreta no infinito
sabe  bem qual resposta.
Quanto tempo duraremos ?
Sobrará algum de nós ?
o que restará da Terra
que alimenta todos nós?
mas o grito se perdeu 
não fez eco , sufocou
e o ponto azul no espaço
acabou..... 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Helena de Ellás

Mil navios foram ao mar
por Helena, filha de Ellás
cem mil helenos sepultados
por uma vingança voraz!
Helena da Grécia é de Tróia?
Isto Menelau não aceitou
ser trapaceado na história
que ele mesmo traçou..
Convocou jovens e velhos
para batalha do ego
utilizou armas e feitiços
pelo ódio ficou cego !
Aliou-se à deuses e homens
uns sábios, outros fortes
sacrificou muitas vidas
ofereceu muitas mortes ,
para ter de volta a Helena
rainha de muitos helenos,
Mas não foi por amor a batalha
Foi por vaidade, de certo
que a grande guerra da história
armou-se em mar aberto
E nas praias de Perseu,
No reinado de Heitor,
Travou-se o duelo cruel
Que ao jovem príncipe matou!
Ele que não a amava
também por ela morreu,
E o que dizer de Ulisses
aquele chamado Odisseu?
Que não amava Helena,
e por causa dela perdeu
sua Penélope ,seu reino,
sua Ítaca encantada
vinte anos de sua vida
a juventude de sua amada
E Aquiles , o semideus
Que a Helena também não amou
Por uma flecha no pé
que seu calcanhar perfurou
perdeu-se no meio da história
que o rei Menelau começou 

05.12.2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Hagnarök
um dia eles se foram
aos poucos eram esquecidos
no crepúsculo dos deuses
sepultou-se os adormecidos
morreram na história , nas eras
porque já não eram lembrados
não recebiam ofertas
ou com sacrificios honrados
o que houve com o cruel Ares ?
Ou com Erus, o cupido?
Assim como o Zeus do Olimpo,
que também foi esquecido
nem Hércules, o semideus
que era metade mortal
sobreviveu à doença 
do  indiferente  mundo atual
Odin ou Thor, com seu martelo
não atravessaram mais o  Bifrost
e walkirias que o valhala encerra
não cavalgaram para guerra.
Foi com o Boi Apís e Osiris,
o terrível Hades ou Anubis
Isis ou a bela Afrodite
que assim como a fada  Sininho
precisam de quem acredite
E foi assim o Hagnarök
o armagedon do mundo antigo
nenhum deus sobreviveu
se não encontrou novo abrigo
O elfos que foram guias,
hoje são corpos etéreos.
Um mundo de sonho e magia
deu lugar  à gélidos impérios!
e quanto mais velho fica o mundo
menos se crê no que não se vê,
menos existe do sobrenatural 
e  estes deuses  que hoje cremos
qual será o final ?
Viverão eles sem nós?
ou sem eles,  viveremos ?



sexta-feira, 4 de julho de 2014

MAPUCHE

As vezes atravesso as Cordilheiras
E somos um...apenas um...
As vezes voo alto
e somos Deus ..apenas Deus...
As vezes meu corpo fica inerte
Mas minha alma viaja
Sou estrada, sou floresta ,sou deserto..
Sem um mapa vou ao seu encontro
Somos longe, somos perto!
Sei que um céu hoje nos separa
Antigo irmão da minha alma ,
Mas vou te reencontrar na velha estrada
Que hora é  turbulenta , hora é calma
De outra dimensão ,de outra vida 
Será uma nova história
Nesta amizade repetida
E quando eu ver o mundo ali guardado
No universo do teu olhar admirado
Com a simples maravilha de viver
Vou poder guardar a lupa que eu usava
Para encontrar em uma trilha sua pegada

Porque sei que vou te reconhecer .  

sábado, 28 de junho de 2014


POEIRA DE ESTRELAS

De onde vieram meus átomos ?
Meus carbonos, de quem foram ?
Já foram riboses de César,
Ou de Jesus talvez foram ?
Foram de geleiras do Ártico
As minhas águas celulares ,
E os fios dos meus cabelos
Foram corpos estelares .
O oxigênio que bem agora
Circula em meu sangue
Conheceu alvéolos pulmonares
De Platão ou então de Gandhi
Meus nitrogênios viajaram
Por continentes, Países
Em meus ossos estes cálcios
Transportados por raízes.
Estes sódios e potássios
No peito de Átila dormiram
E quem sabe dos quasares
Em seus raios refletiram
Sou poeira das estrelas
Carregada pelos ventos
Sou um corpo reciclado
Desde o início dos tempos
Viajantes seculares
De onde vim pra onde vou?
Sou o alfa do alfabeto,
Herança do Big- Bang
Sou de Kafka o inseto
Guardo memórias químicas
Das areias do deserto
Da argila de Adão
Átomos da costela e
Das páginas do alcorão  
Viajante das galáxias  
Sou uma poeira estelar
Um gigante gasoso
Ou ser unicelular
Vou assim fazendo parte
Da História do Universo
Escrito em símbolos , números
                          Descrito em simples versos  
Romano

sábado, 14 de junho de 2014

PROSERPIDA E O SENHOR DOS MORTOS

 

A deusa da primavera

Dançava feliz nos campos,

Cercada de lindas ninfas,

Sátiros, rosas, crisântemos.

Foi quando o chão se abriu

E do inferno ele subiu

Pra fechar a fenda do Tártaro,

E o cupido, numa aposta

Com a deusa da beleza,

Acertou a flecha em cheio

No peito da realeza

Do sombrio mundo dos mortos!

E ao olhar a bela jovem,

Cheia de vida e pureza,

Uma idéia então lhe veio.

O rápto de Prosérpida

Foi notícia em todo Olimpo

Procurada por céus e mares,

Em cavernas, labirintos...

Sua dedicada mãe,

A deusa da colheita,

Descuidou de seu trabalho,

Deixou o mundo abandonado,

E o que era fértil morreu,

Foi ficando congelado !

E a angustia desta mãe,

Transformou-se em suspeita

E a suspeita em certeza.

Presa no inferno quente

Estaria sua menina,

Escondendo sua beleza,

Torturada pôr um demente,

Nos vapores fétidos submersa.

E ela nem sequer podia

No outro mundo se alimentar

Pois ao comer no inferno,

Seria obrigada a ficar!

E foi para Zeus a surpresa

Ao chegar para o resgate,

Que o deus dos mortos, que beleza!

Libertava das cadeias,

Diminuia os castigos,

Esquecia de punir,

Tudo pôr causa da flecha

Do cupido a lhe atingir,

E ao perguntar a jovem dama

Se ela desejava então partir,

Mordendo metade do pão,

Ela olhou apaixonada

Para o deus do submundo

E disse : agora não...

E assim ficou combinado

Que metade do ano seria

De cultivo e plantação

E a outra metade ,gelada ,

Seria tempo de perdão.

E as almas condenadas

Esperam até hoje

O tempo da semente,

Que enterrada nas profundezas,

Não alegra a viva gente,

Mas é muito esperada

Pelas almas torturadas

Que choram desesperadas,

Que buscam um alívio

Quando chega a primavera,

Pois sabem que penarão

Meio ano de espera.