sábado, 28 de junho de 2014


POEIRA DE ESTRELAS

De onde vieram meus átomos ?
Meus carbonos, de quem foram ?
Já foram riboses de César,
Ou de Jesus talvez foram ?
Foram de geleiras do Ártico
As minhas águas celulares ,
E os fios dos meus cabelos
Foram corpos estelares .
O oxigênio que bem agora
Circula em meu sangue
Conheceu alvéolos pulmonares
De Platão ou então de Gandhi
Meus nitrogênios viajaram
Por continentes, Países
Em meus ossos estes cálcios
Transportados por raízes.
Estes sódios e potássios
No peito de Átila dormiram
E quem sabe dos quasares
Em seus raios refletiram
Sou poeira das estrelas
Carregada pelos ventos
Sou um corpo reciclado
Desde o início dos tempos
Viajantes seculares
De onde vim pra onde vou?
Sou o alfa do alfabeto,
Herança do Big- Bang
Sou de Kafka o inseto
Guardo memórias químicas
Das areias do deserto
Da argila de Adão
Átomos da costela e
Das páginas do alcorão  
Viajante das galáxias  
Sou uma poeira estelar
Um gigante gasoso
Ou ser unicelular
Vou assim fazendo parte
Da História do Universo
Escrito em símbolos , números
                          Descrito em simples versos  
Romano

sábado, 14 de junho de 2014

PROSERPIDA E O SENHOR DOS MORTOS

 

A deusa da primavera

Dançava feliz nos campos,

Cercada de lindas ninfas,

Sátiros, rosas, crisântemos.

Foi quando o chão se abriu

E do inferno ele subiu

Pra fechar a fenda do Tártaro,

E o cupido, numa aposta

Com a deusa da beleza,

Acertou a flecha em cheio

No peito da realeza

Do sombrio mundo dos mortos!

E ao olhar a bela jovem,

Cheia de vida e pureza,

Uma idéia então lhe veio.

O rápto de Prosérpida

Foi notícia em todo Olimpo

Procurada por céus e mares,

Em cavernas, labirintos...

Sua dedicada mãe,

A deusa da colheita,

Descuidou de seu trabalho,

Deixou o mundo abandonado,

E o que era fértil morreu,

Foi ficando congelado !

E a angustia desta mãe,

Transformou-se em suspeita

E a suspeita em certeza.

Presa no inferno quente

Estaria sua menina,

Escondendo sua beleza,

Torturada pôr um demente,

Nos vapores fétidos submersa.

E ela nem sequer podia

No outro mundo se alimentar

Pois ao comer no inferno,

Seria obrigada a ficar!

E foi para Zeus a surpresa

Ao chegar para o resgate,

Que o deus dos mortos, que beleza!

Libertava das cadeias,

Diminuia os castigos,

Esquecia de punir,

Tudo pôr causa da flecha

Do cupido a lhe atingir,

E ao perguntar a jovem dama

Se ela desejava então partir,

Mordendo metade do pão,

Ela olhou apaixonada

Para o deus do submundo

E disse : agora não...

E assim ficou combinado

Que metade do ano seria

De cultivo e plantação

E a outra metade ,gelada ,

Seria tempo de perdão.

E as almas condenadas

Esperam até hoje

O tempo da semente,

Que enterrada nas profundezas,

Não alegra a viva gente,

Mas é muito esperada

Pelas almas torturadas

Que choram desesperadas,

Que buscam um alívio

Quando chega a primavera,

Pois sabem que penarão

Meio ano de espera.
Beethoven